sábado, 23 de abril de 2011

Entidades mobilizam-se contra a libertação de acusado de racismo.


Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul


A libertação do comerciante Cláudio Tatsuo Kubo, acusado de racismo, um dia depois da sua prisão, causou indignação em integrantes de entidades que atuam em defesa dos negros. Representantes do Movimento das Mulheres Negras de Sorocaba (Momunes) se reuniram na quinta-feira (21) para elaborar um manifesto de repúdio ao benefício concedido ao acusado e cobrando maior rigor no cumprimento da lei que trata a questão como crime inafiançável. Kubo foi preso na tarde de terça-feira acusado por crime de racismo praticado contra a cabeleireira Vera Maria da Silva, após um acidente de trânsito.
A vice-presidente da entidade, Márcia Maria de Almeida, diz que toda comunidade negra está se sentindo ofendida com a ausência de um tratamento mais rigoroso por parte da Justiça com o caso, o que pode abrir precedentes para que outras situações como essa voltem a acontecer na cidade. “A Vera Maria foi muito corajosa em denunciar esse fato. Agora não podemos permitir que esse empresário saia impune diante de uma atitude tão ofensiva, por conta de alguma influência que possa ter por sua posição”, afirma.
Márcia reconhece que ainda hoje os negros e, principalmente, as mulheres negras sentem o preconceito no seu dia-a-dia, mas muitos deixam passar porque isso acontece de uma forma velada. Segundo ela, são poucos os que se dispõem a denunciar situações de racismo, justamente por acharem que não vai dar em nada. “Por isso é inadmissível que quando isso ocorre fique essa sensação de impunidade. Temos uma lei e o mínimo que esperamos é que ela seja cumprida, como forma de estimular outras pessoas para que também denunciem qualquer situação de racismo.”
O presidente do Conselho Municipal do Negro, Márcio Roberto dos Santos, conhecido como Márcio Brown, disse que também irá convocar na próxima semana uma reunião com representantes de todas as entidades que atuam na defesa dos negros para que se decidida qual a providência que será tomada em relação ao caso e o suporte que será dado para a mulher que fez a denúncia. Ele afirma que a libertação do acusado é motivo de preocupação para toda a comunidade, pois demonstra uma fragilidade muito grande por parte do Poder Judiciário em fazer valer o artigo 140 do Código Penal, que determina que o racismo é um crime inafiançável. “Não podemos aceitar que um dia a pessoa seja presa e no outro já esteja em liberdade.”
Na avaliação de Brown, não houve o rigor necessário para o julgamento do caso, com uma avaliação mais criteriosa sobre o grau de envolvimento entre as partes, se o autor já é reincidente e se ele cumpre o seu papel como cidadão. “As pessoas com mais influência e dinheiro acabam tendo privilégios. Mas se ele errou, tem que ser responsabilizado por esse erro e dar o exemplo para a sociedade, para que situações como essa não voltem a acontecer.” O presidente do Conselho reforça que a atitude da cabeleireira Vera Maria da Silva foi muito importante, pois somente com as denúncias é que se pode se quantificar casos como esses e cobrar o desenvolvimento e aplicação de políticas públicas em defesa dos seus direitos.





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