quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Um dia para se viver

 Jornal Bom Dia 11-09-2013
Rui Albuquerque
 
Bom dia. Novamente nos encontramos nas páginas do Bom Dia, onde escrevo desde a inauguração do jornal, há oito anos, numa grande festa no Hotel Pitangueiras. No meu primeiro artigo lembrei que bom dia vem do sânscrito e significa: eu desejo Deus para você. Assim, iniciando este texto com um bom dia, estou abrindo meu coração a você que me honra com sua leitura e, assim, nos aproximamos. São momentos importantes para refletirmos sobre a vida.

Cheguei a poucos minutos (11h – 10/09) do velório de Dona Isabel Telles Marsal, que aconteceu nas instalações da Ossel, em Votorantim. Eu não a conhecia, mas ela era uma mulher muito amada. Grande parte da população tomou conta das dependências da funerária. Misturavam-se pessoas simples e autoridades de destaque.

Dona Isabel foi casada com Fidelcino Marsal e eles geraram os filhos Werinton Kermes, Mônica, Uaires Claiton e Andreia. Ao deparar com o corpo inerte dessa mulher, fiz uma viagem no tempo. Lembrei que ela, simples e com poucos recursos, queria ver os sonhos do seu filho Werinton acontecerem. 

Ele queria parar o tempo capturando a natureza e seu principal elemento: o ser humano que constrói histórias compõem paisagens, transforma ou, simplesmente, com o próprio jeito de viver provoca risos, lágrimas, emoções enfim. Assim, Dona Isabel inscreveu o menino Werinton no quadro “Porta da Esperança”, no programa Sílvio Santos. Tímido, sem jeito, ele conquistou o apresentador, deu pontos no Ibope e garantiu sua máquina fotográfica. 

 Esse “mico” o tornou alvo de gozações dos seus colegas, mas a câmera o impulsionou a ingressar no jornal “Diário de Sorocaba”. Além de fotógrafo se tornou repórter e atuou posteriormente nos jornais: Cruzeiro do Sul, O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde e Diário Popular. Atualmente é proprietário da Gazeta de Votorantim, de um canal de TV na cidade e da revista Provocare.

Werinton é um amigo de verdade. Sempre o admirei pelo jeitão baiano de ser. Prudente, sabe ouvir. Calmo, sabe refletir. Macio, sabe ponderar. E longe de ser preguiçoso, ele é um dos maiores empreendedores culturais que já conheci. 

Revolucionou a cultura de Votorantim quando foi braço direito de Glauber Piva, outro grande valor. Produziu filmes e atuou em dezenas de documentários. Foi premiado no festival de Gramado. Também publicou livros de fotografias e o importante “Política e Ação Cultural – Por Uma Gestão de Culturas”, onde procurou disseminar sua experiência como Técnico Cultural na Oficina Grande Otelo, Diretor de Cultura e Secretário de Cultura de Votorantim. Casado com a doutora Miriam Cris Carlos, ele, há alguns anos, dirigiu um programa na Rádio Cruzeiro do Sul onde sua esposa me homenageou.

Amigo de verdade, Werinton me ofereceu, quando eu ocupava a presidência da Associação Sorocabana de Imprensa, um filme sobre Wladimir Herzog, exibido para comemorarmos o Dia dos Direitos Humanos. Nessa oportunidade, evangélicos, espíritas, católicos, judeus terminaram abraçados, num dos atos mais emocionantes que já testemunhei.

Dona Isabel partiu e deixou todos entristecidos. Está faltando a alegria irradiante dessa mulher que levou o filho na “Porta da Esperança” para que ele tivesse sua primeira câmera fotográfica e iniciasse a vida profissional, depois universitária. Em resumo: ela mostrou, com sua vida dinâmica, que mesmo com poucos recursos, mas com atitudes corajosas e exemplos de honestidade, pode-se ter uma existência feliz, produtiva e criar cidadãos de bem.

Por isso, hoje, eu me solidarizo com a família de Dona Isabel e, a você, eu reproduzo as palavras de Tenzin Giatso, o 14º Dalai Lama: “Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã; portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver”.

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