Jornal Bom Dia 11-09-2013
Rui Albuquerque
Bom dia. Novamente nos encontramos nas páginas do Bom Dia, onde
escrevo desde a inauguração do jornal, há oito anos, numa grande festa
no Hotel Pitangueiras. No meu primeiro artigo lembrei que bom dia vem do
sânscrito e significa: eu desejo Deus para você. Assim, iniciando este
texto com um bom dia, estou abrindo meu coração a você que me honra com
sua leitura e, assim, nos aproximamos. São momentos importantes para
refletirmos sobre a vida.
Cheguei a poucos
minutos (11h – 10/09) do velório de Dona Isabel Telles Marsal, que
aconteceu nas instalações da Ossel, em Votorantim. Eu não a conhecia,
mas ela era uma mulher muito amada. Grande parte da população tomou
conta das dependências da funerária. Misturavam-se pessoas simples e
autoridades de destaque.
Dona Isabel foi casada
com Fidelcino Marsal e eles geraram os filhos Werinton Kermes, Mônica,
Uaires Claiton e Andreia. Ao deparar com o corpo inerte dessa mulher,
fiz uma viagem no tempo. Lembrei que ela, simples e com poucos recursos,
queria ver os sonhos do seu filho Werinton acontecerem.
Ele
queria parar o tempo capturando a natureza e seu principal elemento: o
ser humano que constrói histórias compõem paisagens, transforma ou,
simplesmente, com o próprio jeito de viver provoca risos, lágrimas,
emoções enfim. Assim, Dona Isabel inscreveu o menino Werinton no quadro
“Porta da Esperança”, no programa Sílvio Santos. Tímido, sem jeito, ele
conquistou o apresentador, deu pontos no Ibope e garantiu sua máquina
fotográfica.
Esse “mico” o tornou alvo de
gozações dos seus colegas, mas a câmera o impulsionou a ingressar no
jornal “Diário de Sorocaba”. Além de fotógrafo se tornou repórter e
atuou posteriormente nos jornais: Cruzeiro do Sul, O Estado de S. Paulo,
Jornal da Tarde e Diário Popular. Atualmente é proprietário da Gazeta
de Votorantim, de um canal de TV na cidade e da revista Provocare.
Werinton
é um amigo de verdade. Sempre o admirei pelo jeitão baiano de ser.
Prudente, sabe ouvir. Calmo, sabe refletir. Macio, sabe ponderar. E
longe de ser preguiçoso, ele é um dos maiores empreendedores culturais
que já conheci.
Revolucionou a cultura de
Votorantim quando foi braço direito de Glauber Piva, outro grande valor.
Produziu filmes e atuou em dezenas de documentários. Foi premiado no
festival de Gramado. Também publicou livros de fotografias e o
importante “Política e Ação Cultural – Por Uma Gestão de Culturas”, onde
procurou disseminar sua experiência como Técnico Cultural na Oficina
Grande Otelo, Diretor de Cultura e Secretário de Cultura de Votorantim.
Casado com a doutora Miriam Cris Carlos, ele, há alguns anos, dirigiu um
programa na Rádio Cruzeiro do Sul onde sua esposa me homenageou.
Amigo
de verdade, Werinton me ofereceu, quando eu ocupava a presidência da
Associação Sorocabana de Imprensa, um filme sobre Wladimir Herzog,
exibido para comemorarmos o Dia dos Direitos Humanos. Nessa
oportunidade, evangélicos, espíritas, católicos, judeus terminaram
abraçados, num dos atos mais emocionantes que já testemunhei.
Dona
Isabel partiu e deixou todos entristecidos. Está faltando a alegria
irradiante dessa mulher que levou o filho na “Porta da Esperança” para
que ele tivesse sua primeira câmera fotográfica e iniciasse a vida
profissional, depois universitária. Em resumo: ela mostrou, com sua vida
dinâmica, que mesmo com poucos recursos, mas com atitudes corajosas e
exemplos de honestidade, pode-se ter uma existência feliz, produtiva e
criar cidadãos de bem.
Por isso, hoje, eu me
solidarizo com a família de Dona Isabel e, a você, eu reproduzo as
palavras de Tenzin Giatso, o 14º Dalai Lama: “Só existem dois dias no
ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama
amanhã; portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e
principalmente viver”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário