Mais de 500 pessoas compareceram à “Noite para Clementina”, que
contou com exposição fotográfica, exibição de filme e shows com diversos
artistas
O Cine Teatro Solar Boa Vista, um dos Espaços Culturais da SECULT, realizou no dia 26 a Noite para Clementina,
evento que reuniu um público de cerca de 500 pessoas e 45 artistas,
para prestigiar a sambista e ícone da música brasileira, Clementina de
Jesus. A noite teve inicio às 18h, com a abertura de uma exposição
fotográfica que contava um pouco da história da cantora. Às 19h
aconteceu a exibição do documentário Clementina de Jesus: Rainha Quelé e logo em seguida,às 20h, o show musical No Quintal de Quelé, que reuniu vários cantores baianos cantando canções do repertório de Clementina, fechou a programação.
O evento também contou com a presença de Werinton Kermes e Míriam Cris Carlos, diretor e roteirista de Clementina de Jesus: Rainha Quelé.
Um bate papo aconteceu após a exibição do documentário, onde Werinton
comentou sobre o desafio que foi a pesquisa, produção e realização de
tal filme, além da grande satisfação que tem em homenagear tal figura
que apesar de muito importante na cultura musical brasileira, pouco é
lembrada e devidamente reconhecida por muitas pessoas.
Clementina de Jesus foi uma cantora negra
carioca, nascida na cidade de Valença, só descoberta aos 62 anos. Dona
de casa e empregada doméstica, Clementina teve afinidade com a música
desde criança, enquanto observava sua mãe cantar antigos cânticos de
escravos. Dona de uma voz grossa e marcante, Quelé, carinhosamente
apelidada pelos amigos, chamava atenção pela sua simplicidade e
afinação, e foi a responsável por trazer o Vissungo – cânticos dos
escravos – aos palcos brasileiros, além de mesclá-los com o samba e
músicas modernas. Ela chegou a se apresentar diversas vezes com artistas
consagrados da música popular brasileira, como Paulinho da Viola,
Pixinguinha e João Bosco.
No show que encerrou a noite, No Quintal de Quelé,
foram conferidos muitos dos sucessos que Clementina gravou ao longo da
sua carreira. Interpretadas por artistas baianos, músicas como Pergunte ao João, Marinheiro Só, Não Vadeia, Me Dá o Meu Boné, Boca de Sapo
fizeram o público cantar e dançar na sala principal do Solar. Os
artistas se apresentaram sempre em parcerias e chamavam o público a
também participar e compor a festa.
Para Chicco Assis, coordenador do espaço e
responsável pela produção e direção artística junto à Juliana Ribeiro,
“… homenagear Clementina no Solar Boa Vista, lugar onde já morou o poeta
abolicionista Castro Alves, já foi engenho, senzala e hoje abriga uma
população prioritariamente negra, é reforçar as raízes afrodescendentes
da nossa música, da nossa arte, da nossa cultura. Clementina de Jesus é o
maior ícone da música afro-brasileira (…). Dividir palco com tantos
artistas que voluntariamente atenderam ao chamado da Rainha Quelé, ver a
platéia do Solar repleta de diversidade em idade, gênero, raça,
condição sócio econômica, todos ecoando a voz de Clementina, foi uma
emoção sem tamanho. O pontapé inicial foi dado.”
Juliana Ribeiro também ressaltou a
importância de Clementina de Jesus como um todo, desde suas raízes, já
que seu pai veio da África, a sua experiência como sambista: “Ela é
essencial, única. Costumo dizer que Clementina canta 300 anos de
história em três minutos de canção. Ela é toda sua história, ser
descoberta aos 62 anos foi só a ponta do iceberg.” E em relação à Noite para Clementina,
Juliana acrescenta: “Superou todas as expectativas (…) a vinda de
Werinton foi importantíssima, nunca vi o Solar tão cheio. Foi o primeiro
passo para trazer a memória de Clementina, pois ela nunca está no
centro, sempre é tratada como apêndice. Precisamos levar Clementina para
quem não conhece e tratá-la como personagem principal.”
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