domingo, 29 de julho de 2012

Público Lota o Cine Teatro Solar Boa Vista em Evento Homenageando Clementina de Jesus



Mais de 500 pessoas compareceram à “Noite para Clementina”, que contou com exposição fotográfica, exibição de filme e shows com diversos artistas

O Cine Teatro Solar Boa Vista, um dos Espaços Culturais da SECULT, realizou no dia 26 a Noite para Clementina, evento que reuniu um público de cerca de 500 pessoas e 45 artistas, para prestigiar a sambista e ícone da música brasileira, Clementina de Jesus. A noite teve inicio às 18h, com a abertura de uma exposição fotográfica que contava um pouco da história da cantora. Às 19h aconteceu a exibição do documentário Clementina de Jesus: Rainha Quelé e logo em seguida,às 20h, o show musical No Quintal de Quelé, que reuniu vários cantores baianos cantando canções do repertório de Clementina, fechou a programação.
O evento também contou com a presença de Werinton Kermes e Míriam Cris Carlos, diretor e roteirista de Clementina de Jesus: Rainha Quelé. Um bate papo aconteceu após a exibição do documentário, onde Werinton comentou sobre o desafio que foi a pesquisa, produção e realização de tal filme, além da grande satisfação que tem em homenagear tal figura que apesar de muito importante na cultura musical brasileira, pouco é lembrada e devidamente reconhecida por muitas pessoas.
Clementina de Jesus foi uma cantora negra carioca, nascida na cidade de Valença, só descoberta aos 62 anos. Dona de casa e empregada doméstica, Clementina teve afinidade com a música desde criança, enquanto observava sua mãe cantar antigos cânticos de escravos. Dona de uma voz grossa e marcante, Quelé, carinhosamente apelidada pelos amigos, chamava atenção pela sua simplicidade e afinação, e foi a responsável por trazer o Vissungo – cânticos dos escravos – aos palcos brasileiros, além de mesclá-los com o samba e músicas modernas. Ela chegou a se apresentar diversas vezes com artistas consagrados da música popular brasileira, como Paulinho da Viola, Pixinguinha e João Bosco.
No show que encerrou a noite, No Quintal de Quelé, foram conferidos muitos dos sucessos que Clementina gravou ao longo da sua carreira. Interpretadas por artistas baianos, músicas como Pergunte ao João, Marinheiro Só, Não Vadeia, Me Dá o Meu Boné, Boca de Sapo fizeram o público cantar e dançar na sala principal do Solar. Os artistas se apresentaram sempre em parcerias e chamavam o público a também participar e compor a festa.
Para Chicco Assis, coordenador do espaço e responsável pela produção e direção artística junto à Juliana Ribeiro, “… homenagear Clementina no Solar Boa Vista, lugar onde já morou o poeta abolicionista Castro Alves, já foi engenho, senzala e hoje abriga uma população prioritariamente negra, é reforçar as raízes afrodescendentes da nossa música, da nossa arte, da nossa cultura. Clementina de Jesus é o maior ícone da música afro-brasileira (…). Dividir palco com tantos artistas que voluntariamente atenderam ao chamado da Rainha Quelé, ver a platéia do Solar repleta de diversidade em idade, gênero, raça, condição sócio econômica, todos ecoando a voz de Clementina, foi uma emoção sem tamanho. O pontapé inicial foi dado.”
Juliana Ribeiro também ressaltou a importância de Clementina de Jesus como um todo, desde suas raízes, já que seu pai veio da África, a sua experiência como sambista: “Ela é essencial, única. Costumo dizer que Clementina canta 300 anos de história em três minutos de canção. Ela é toda sua história, ser descoberta aos 62 anos foi só a ponta do iceberg.” E em relação à Noite para Clementina, Juliana acrescenta: “Superou todas as expectativas (…) a vinda de Werinton foi importantíssima, nunca vi o Solar tão cheio. Foi o primeiro passo para trazer a memória de Clementina, pois ela nunca está no centro, sempre é tratada como apêndice. Precisamos levar Clementina para quem não conhece e tratá-la como personagem principal.”

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