terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Entrevista com Teco Barbero

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O presidente Jânio Quadros instituiu, em 1961, o dia 13 de dezembro como o Dia Nacional do Cego (também conhecido como Dia do Deficiente Visual). Essa data tem como principal objetivo estimular a inclusão social dos portadores dessa deficiência e diminuir o preconceito e a discriminação existentes. Nós mesmos não sabíamos da profissão de fotógrafo para cegos, por isso a equipe da TV UVA conversou com Antônio Walter Barbero, mais conhecido como Teco Barbero. Aos 35 anos, o jornalista e fotógrafo explica que nasceu com deficiência visual e uma lesão cerebral, e que a relação com a fotografia não foi pensada.

TV UVA: De qual maneira a fotografia entrou na sua vida?
TECO: A fotografia entrou na minha vida de uma forma não esperada. Eu havia feito uma única foto do meu pai numa viagem a Europa com 16 anos. Ele me posicionou de um jeito que deu pra fazer a foto e depois disso nunca mais tinha feito foto até 2002, quando o jornalista Weriton Kermes dividiu uma matéria de jornalismo comigo na faculdade e aí ele me convidou falando que tinha visto um filme chamado Janela da Alma que é sobre um cego que fotografa e ele queria ensinar fotografia para um grupo de deficientes visuais.

TV UVA: Quando você percebeu que queria seguir isso como carreira?
TECO: Na verdade, eu não precisei perceber que a fotografia se tornaria uma carreira ou poderia se tornar, né? Ela ainda não está consolidada, são 14 anos fotografando, mas não posso dizer que é uma carreira consolidada porque não vivo só disso, eu já trabalho na Faculdade de Engenharia de Sorocaba e a fotografia é um complemento. Um dia eu quero tornar isso um trabalho único, mas, na verdade, não foi eu que procurei, foi a fotografia que me procurou, as oportunidades foram aparecendo.

TV UVA: Você enfrentou muitas dificuldades, discriminações e/ou preconceitos na sua área profissional?
TECO: Soa muito estranho para as pessoas que uma pessoa que tem pouca visão ou cega possa fotografar. Só que ao longo desses 14 anos, a gente está mostrando que não. A questão de preconceito, discriminação ou coisa parecida ainda existe muito forte, mas vai diminuindo a cada ano que passo a ser mais conhecido. Até hoje eu fui bem-sucedido no meu trabalho, nunca ninguém falou que meu trabalho era ruim, então isso está me dando credibilidade ao longo desses anos.

TV UVA: Qual o impacto que isso trouxe para você?
TECO: Me deu um norte. A fotografia passou a se tornar um objetivo de vida e mais que isso: a intenção lá do curso em 2002 não era transformar ninguém em fotógrafo, isso aconteceu comigo e depois com algumas outras pessoas de outros cursos que o Weriton e eu demos por aí separadamente, mas a principal mudança foi na parte inclusiva. A fotografia, como era o objetivo do curso, era se transformar em meio de inclusão e foi assim que aconteceu, a gente começou a ser visto, as pessoas começaram a se interagir mais.

TV UVA: Como foi a experiência de fotogravar uma campanha publicitária?
TECO: A experiência da ADD em 2009 foi o estopim para que eu começasse efetivamente a minha carreira. Foi ela que permitiu que eu tivesse visibilidade nos cinemas de São Paulo onde ela foi exibida, na televisão e tudo mais. Mas além disso foi uma experiência muito interessante e diferente porque eu nunca tinha feito nada disso, nenhuma campanha publicitária nem nada e no primeiro convite foi só para fazer a foto e depois me convidaram para participar do próprio filme. Foi uma experiência muito legal, mas também muito cansativa.


TV UVA: Por que você teve vontade de ir fazendo workshops pelo Brasil? O sentido de expandir a inclusão social esteve presente nessa escolha?
TECO: Eu desenvolvi o meu próprio workshop com o que aprendi com o Weriton e apareceram algumas oportunidades, nenhuma delas eu fui atrás, elas é que vieram até mim e espero ainda continuar fazendo muito mais. Então foram as duas coisas: primeiro, a oportunidade de ensinar outras pessoas com deficiência visual pelo Brasil e até pelo mundo, se for possível, a conhecerem esse ramo da fotografia e se incluírem ainda mais dentro da sociedade.

Por: Ana Carolina Aguiar



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